terça-feira, 20 de maio de 2014

FOLHA DE PERNAMBUCO: O SUFOCO DE UM PAÍS SEM ESTUDO

O sufoco de um País sem estudo


Segundo dia da série Heróis da Resistência relata a desqualificação da mão de obra

19/05/2014 10:30 - Viviane Barros Lima, da Folha de Pernambuco
 
Hesíodo Góes/Folha de Pernambuco
Estaleiro Atlântico Sul sofreu para preencher as vagas geradas. Muitos postos foram ocupados por pessoas de outros estados
Ricardo Essinger, vice-presidente da Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe) e proprietário da Pigmentos Oxinor, procurava um trabalhador para ocupar o cargo de auxiliar de laboratório na sua empresa. A única exigência para a vaga era que candidato soubesse fazer as quatro operações matemáticas básicas. Um total de 100 pessoas se propuseram a ocupar o posto de trabalho. O empresário até ficou surpreso com a procura. Ninguém conseguiu passar no teste. “100 candidatos coma oitava séria concluída e não conseguimos nenhum. Isso é uma vergonha”, lamenta.
A dificuldade de conseguir mão de obra especializada não é uma realidade que afeta somente as indústrias de Pernambuco, mas todo o País. Especialistas são uníssonos em dizer que a educação básica precária do trabalhador afeta a produtividade do segmento. Tanto as vagas do chão de fábrica quanto os cargos mais altos são difíceis de serem ocupados por um funcionário completo - aquele que já vem com o nível de especialização ideal. De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios, realizada pelo IBGE, das quase 92 milhões de pessoas ocupadas no Brasil, com 14 anos ou mais, no último trimestre de 2013 (dado mais recente), apenas 13,7 milhões tinham o ensino superior completo. No Nordeste, dos 22,5milhões de trabalhadores, 2,2milhões estavam na situação privilegiada. Em termos percentuais, a região e o Norte apresentam os piores indicativos: 10% com ensino superior completo. O Sudeste foi o melhor colocado: 18,2%.
“Na nossa pesquisa de sondagem da indústria de 2003, apenas 5% dos industriais diziam que a mão de obra era um dos três principais problemas do setor. Este ano, esse percentual subiu para 25%”, calcula Renato Fonseca, gerente executivo de Pesquisa e Competitividade da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ele explica que o problema ganhou maiores proporções por causa do crescimento da economia. “Entre 1996 e 2003, o mercado de emprego formal criava em média 725 mil empregos por ano. A partir de 2014, você tem um salto e a média vai para dois milhões de postos. Isso gera um déficit”, completa.
Em Pernambuco, a carência de mão de obra especializada afetou os grandes investimentos, como a Refinaria Abreu e Lima e o Estaleiro Atlântico Sul, e deve atrapalhar também o setor automotivo, que será criado pela Fiat e por empresas agregadas à montadora. “Antes dos empreendimentos chegarem ao Estado, o Senai e empresas de consultoria trabalharam com as universidades para oferecer cursos técnicos. Ficaram todos surpresos com o nível dos candidatos. Era muito ruim. Não passavam nas provas básicas de português e matemática. Muitas vagas foram ocupadas por pessoas de outros estados”, diz a especialista em Gestão de Pessoas e professora do Departamento de Administração da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Tânia Nobre. Ela acredita que o mesmo movimento de migração de trabalhadores deve acontecer com povo automotivo. “A Fiat está com um nível de exigência muito alto, mesmo para o pessoal do nível operacional. Estão pedindo duas línguas. O pessoal não sabe nem português direito. Pouquíssimos falam inglês fluente. Duas línguas estrangeiras é um sonho”.
Produtividade da mão de obra não melhorou
A falta de capacitação da mão de obra brasileira faz com que a indústria tenha uma baixa produtividade. Nos últimos cinco anos, esse item ficou estacionado. A consultoria McKinsey, especialista em gestão, informou que o trabalhador brasileiro perde espaço no quesito para os empregados de outros países emergentes como a China e a Índia. De 1990 e 2012, a produtividade no trabalho respondeu por 91% do aumento do PIB da China e por 67% do indiano. O percentual brasileiro ficou em 40%. Os dados foram destaque na revista The Economist.
“No Brasil, os trabalhadores tiveram um ganho na renda, mas sem melhorar na parte produtiva. Isto implica na redução de margem de lucro das empresas”, explica Renato Fonseca, gerente executivo de Pesquisa e Competitividade da CNI. Ele diz que o trabalhador não acompanhou o avanço tecnológico das indústrias. “A deficiência atrapalhou vários setores, sobretudo o da construção civil. O pessoal fala que pedreiro aprende rápido, mas ele teve que parar de bater laje e começar a trabalhar com pré-moldado”. Em Pernambuco, a produtividade dos canteiros de obra está muito fraca, segundo o presidente das Empresas do Mercado Imobiliário, André Callou. Além da baixa qualificação, a mão de obra local, em particular a que opera na região do Porto de Suape, é muito afetada por protestos dos trabalhadores que fecham as rodovias. Muitas vezes, os funcionários de Suape ficam cinco horas no trânsito e já chegam ao trabalho atrasados e estressados. Isso acaba com a produtividade do dia.
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