OS EXCLUÍDOS DA MATRIX
Os
recentes números do IBGE dão conta de um número alarmante de analfabetos. São
13,5 milhões de brasileiros acima de quinze anos , quase 10% da população, que
simplesmente não sabem ler ou escrever.
O Estado com o maior número de analfabetos é a Bahia, com 1,8 milhão de
pessoas, seguido por São Paulo com 1,4 milhão.
Já
o INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira, no site do Ministério da Educação, dá a seguinte informação:
“O Brasil possui cerca de 16 milhões de
analfabetos com 15 anos ou mais e 30 milhões de analfabetos funcionais,
conceito que define as pessoas com menos de quatro anos de estudo.”
Tendo
como fonte um estudo minucioso chamado MAPA DO ANALFABETISMO, no site do INEP também é informado:
“A análise do grau de
escolarização da população, ou seja, o número médio de séries concluídas,
mostra que em apenas 19 cidades brasileiras a população possui um índice que
corresponde às oito séries do ensino fundamental. Em outros 1.796 municípios do
País a escolarização média da população é inferior a quatro séries concluídas,
o que não é suficiente para o término do primeiro ciclo do ensino fundamental.”
Em contrapartida o
jornal EL PAIS (artigo de David Alandete) , publicado no UOL – Noticias –
Internacionais, em 27.1.2010, tem como manchete:
“Internet
também cria marginalizados sociais”
No
longo artigo daquele jornal, é exposto a dificuldade de pessoas “pobres, idosos
e população rural” que não tem acesso a internet ou não tem qualquer afinidade
com computadores e com a internet, ficando assim completamente impossibilitados
de enviarem um “curriculum vitae” ou de se cadastrarem para obter um serviço
público.
“É um sonho que muitos
outros compartilham. Há conexões com a rede mundial em lugares nunca antes
imaginados, como o pólo sul, na Estação Amundsen-Scott, ou a bordo do ônibus
espacial da Nasa. Diversas iniciativas tentaram levar a Internet a lugares
extremamente remotos. Muitas vezes com êxito, como demonstra o caso de
Entasopia, no Quênia, uma aldeia de 4 mil habitantes à qual o Google, através
de um convênio com a Universidade de Michigan, levou a banda larga no ano
passado através de uma conexão satélite alimentada por painéis solares.
O sonho de um mundo
totalmente conectado parece se tornar realidade aos poucos, a cada dia. As
novas gerações quase já nascem conectadas à rede. Só o tempo e a sucessão de
gerações demonstrarão se a Internet é capaz de reduzir as desigualdades ou se
realmente ajuda a combatê-las”.
Não se pode perder a
capacidade de se indignar com tais paradoxos, dois ou três tipos de
analfabetos, o individuo que não lê nada, o que lê mas não entende e o que lê e
entende mas esta apartado do mundo digital e desconhece os mecanismos para
viver conectado usufruindo o melhor que
a internet pode dar.
É claro que o que chama
atenção para esse artigo é o nome da saga chamada MATRIX, que tanto
encantamento e surpresa causa. Assim como produz uma série de divagações de
cunho filosófico e sociológico, sobre o virtual, sobre a simulação , sobre o
simulacros e é claro sobre a busca da
realidade ou a realidades. Possivelmente o intelectual e fotografo francês Jean Baudrillard não se
tornaria tão conhecido sem o livro (Simulacro e Simulações) que Neo usa no
filme. Hoje se discute e
se formula nos mais altos círculos da intelectualidade Teorias da Comunicação e
tantas outras Teorias que tentam explicar esse nosso mundo virtual e os novos
caminhos e possibilidades.
Percebe o leitor que há uma
preocupação maior com o excluído digital e não há a mesma preocupação com o
excluído do uso do vernáculo. O artigo
do jornal EL PAIS desperta mais a atenção que a simples noticia sobre o
analfabetismo. No mundo todo
os governantes estão preocupados em
possibilitar o acesso via banda larga a toda população, como se a presença do
computador ligado a internet, fosse a solução para todos os problemas
educacionais e culturais de um povo, esquecendo que internet não ensina
valores.
Procuro chamar atenção com
esse artigo para o fato do excluído digital ser uma preocupação prioritária de
inúmeros governantes e o velho problema do analfabetismo ser tratado como algo
normal. Um é fruto da pós-modernidade outro ficou na modernidade do século XX,
em que pese o analfabeto do vernáculo também ser um excluído digital.
Publicado no Portal Administradores
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