quarta-feira, 27 de junho de 2012

OS EXCLUÍDOS DA MATRIX


OS EXCLUÍDOS DA MATRIX



Os recentes números do IBGE dão conta de um número alarmante de analfabetos. São 13,5 milhões de brasileiros acima de quinze anos , quase 10% da população, que simplesmente não sabem ler ou escrever.  O Estado com o maior número de analfabetos é a Bahia, com 1,8 milhão de pessoas, seguido por São Paulo com 1,4 milhão.



Já o INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, no site do Ministério da Educação, dá a seguinte informação:



                       “O Brasil possui cerca de 16 milhões de analfabetos com 15 anos ou mais e 30 milhões de analfabetos funcionais, conceito que define as pessoas com menos de quatro anos de estudo.”



Tendo como fonte um estudo minucioso chamado MAPA DO ANALFABETISMO,  no site do INEP também é informado:

                          “A análise do grau de escolarização da população, ou seja, o número médio de séries concluídas, mostra que em apenas 19 cidades brasileiras a população possui um índice que corresponde às oito séries do ensino fundamental. Em outros 1.796 municípios do País a escolarização média da população é inferior a quatro séries concluídas, o que não é suficiente para o término do primeiro ciclo do ensino fundamental.”

Em contrapartida o jornal EL PAIS (artigo de David Alandete) , publicado no UOL – Noticias – Internacionais,  em  27.1.2010, tem como manchete:

             “Internet também cria marginalizados sociais”

No longo artigo daquele jornal, é exposto a dificuldade de pessoas “pobres, idosos e população rural” que não tem acesso a internet ou não tem qualquer afinidade com computadores e com a internet, ficando assim completamente impossibilitados de enviarem um “curriculum vitae” ou de se cadastrarem para obter um serviço público.

                   “É um sonho que muitos outros compartilham. Há conexões com a rede mundial em lugares nunca antes imaginados, como o pólo sul, na Estação Amundsen-Scott, ou a bordo do ônibus espacial da Nasa. Diversas iniciativas tentaram levar a Internet a lugares extremamente remotos. Muitas vezes com êxito, como demonstra o caso de Entasopia, no Quênia, uma aldeia de 4 mil habitantes à qual o Google, através de um convênio com a Universidade de Michigan, levou a banda larga no ano passado através de uma conexão satélite alimentada por painéis solares.





                   O sonho de um mundo totalmente conectado parece se tornar realidade aos poucos, a cada dia. As novas gerações quase já nascem conectadas à rede. Só o tempo e a sucessão de gerações demonstrarão se a Internet é capaz de reduzir as desigualdades ou se realmente ajuda a combatê-las”.


Não se pode perder a capacidade de se indignar com tais paradoxos, dois ou três tipos de analfabetos, o individuo que não lê nada, o que lê mas não entende e o que lê e entende mas esta apartado do mundo digital e desconhece os mecanismos para viver conectado usufruindo o melhor que  a internet pode dar.  

É claro que o que chama atenção para esse artigo é o nome da saga chamada MATRIX, que tanto encantamento e surpresa causa. Assim como produz uma série de divagações de cunho filosófico e sociológico, sobre o virtual, sobre a simulação , sobre o simulacros e é claro sobre  a busca da realidade ou a realidades. Possivelmente o intelectual e fotografo  francês  Jean Baudrillard  não  se tornaria tão conhecido sem o livro (Simulacro e Simulações) que Neo usa no filme.     Hoje se discute e se formula nos mais altos círculos da intelectualidade Teorias da Comunicação e tantas outras Teorias que tentam explicar esse nosso mundo virtual e os novos caminhos e possibilidades. 

Percebe o leitor que há uma preocupação maior com o excluído digital e não há a mesma preocupação com o excluído do uso do vernáculo.  O artigo do jornal  EL PAIS desperta  mais a atenção que a simples noticia  sobre o  analfabetismo.  No mundo todo os  governantes estão preocupados em possibilitar o acesso via banda larga a toda população, como se a presença do computador ligado a internet, fosse a solução para todos os problemas educacionais e culturais de um povo, esquecendo que internet não ensina valores.

Procuro chamar atenção com esse artigo para o fato do excluído digital ser uma preocupação prioritária de inúmeros governantes e o velho problema do analfabetismo ser tratado como algo normal. Um é fruto da pós-modernidade outro ficou na modernidade do século XX, em que pese o analfabeto do vernáculo também ser um excluído digital.


Autoria: Hermes Vitali
Publicado no Portal Administradores



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